Thursday, December 27, 2012

1971 - Trabalhadores, Não!

VEJA


Data de Publicação: 17/2/1971

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NOVELA OPERÁRIA



O tempo de um ministro é muito precioso e certamente nenhum deles jamais pensou em dedicar uma parte dele a discussão de telenovelas. Na semana passada, entretanto, o ministro Júlio Barata, do Trabalho e Previdência Social, não hesitou em passar quase duas horas numa longa e animada conversa sobre a próxima novela da TV Tupi, de São Paulo, "A Fábrica", (a partir de 1.º de março às 19 horas) com o seu autor Geraldo Vietri e o ator Juca de Oliveira.



"Eu confesso que fui com um pouco de medo", diz Vietri. "Afinal, o homem devia ter coisas mais importantes para tratar."



Vietri procurou o ministro, apesar de a Censura já ter aprovado os primeiros capítulos, para mostrar um resumo de sua história e saber se havia alguma restrição, por parte do Ministério, ao assunto e aos problemas abordados. E acabou surpreendendo-se: o ministro já o conhecia de outras novelas. "Você sabe dizer as coisas do modo certo", disse a Vietri, referindo-se a "Nino, o Italianinho", que acompanhou inteira. Embora concordando que o tema "é bastante delicado", o ministro leu o resumo e apenas recomendou cuidados em certas abordagens, como no caso de greves, no relacionamento entre empregados e patrões, e nas críticas a instituições. ("O INPS, por exemplo, você pode apontar suas falhas, desde que não o desmoralize como instituição.")



A história dc ''A Fábrica," cujos primeiros capítulos já estão sendo gravados com um elenco de 32 atores, que vai custar mais de 200 000 cruzeiros mensais de salários para a Tupi, gira em torno de um líder operário (Juca de Oliveira) e a dona de uma tecelagem onde ele trabalha (Araci Balabanian). Os personagens são todos operários da Tecelagem Santa Isabel (assim se chama a fábrica) e, entre as inevitáveis tramas amorosas que urgirão entre eles, Vietri quer mostrar problemas trabalhistas (no primeiro capítulo há uma greve): "A maioria dos nossos trabalhadores", diz ele, "não conhece as leis que existem para protegê-los. Nessa fábrica da novela há algumas injustiças (não pagamento de férias, 13.º salário, fundo de garantia, condições de trabalho, refeitório) e nós mostramos como eliminá-las, simplesmente usando a lei". Apesar de afirmar que não pretende dar um final comum para a história, dificilmente Vietri poderá evitar uma paixão irresistível entre a dona da fábrica e o líder operário, que acabarão casando para felicidade de todos da Tecelagem Santa Isabel.



Porque acima de tudo "A Fábrica" tem uma função: tirar a Tupi da sua má fase em novela.







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