Thursday, December 27, 2012

1973 - Flávio Cavalcanti Suspenso

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 16/3/1973

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CENSURA SUSPENDE POR DOIS MESES FLÁVIO E O PROGRAMA



Brasília (Sucursal) - O Programa Flávio Cavalcanti, da TV Tupi, foi retirado ontem do ar por 60 dias, através de portaria do diretor da Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal, Sr. Rogério Nunes, que pune com suspensão, pelo mesmo prazo, o apresentador Flávio Cavalcanti e o produtor Wilton Franco.



Em conseqüência do problema criado, que teria atingido a própria esfera da Presidência da República, os programas ao vivo deverão ser proibidos, pois a simples aprovação do script não impede a repetição de quadros ofensivos à moral e à dignidade humana.



TV NACIONAL - Na manhã de ontem, os Ministros Higino Corsetti e Alfredo Buzaid, das Comunicações e da Justiça, reuniram-se a portas fechadas no Ministério das Comunicações, para a análise geral do problema da televisão brasileira.



Posteriormente, em carros separados, seguiram para a TV Rádio Nacional de Brasília, onde chegaram às 10 horas, sendo recebidos pelo diretor da empresa, Sr. Cavalcanti de Melo. Essa foi a primeira vez que o Governo usou a TV Nacional de Brasília para assistir vídeo-tape.



Os dois Ministros assistiram à gravação juntamente com vários parlamentos, entre os quais os líderes Geraldo Freire (Arena) e Aldo Fagundes (MDB), os Deputados Cantidio Sampaio, Sílvio Furtado, Jorge Ferraz, Lomanto Júnior e Daniel Faraco, entre outros.



O Ministro Alfredo Buzaid, que estava ao lado do General Nilo Canepa, mostrou-se profundamente irritado com a participação de um delegado mineiro no programa. O Ministro Higino Corsetti chamou a atenção sobre outro problema: não é obedecida de modo algum à legislação sobre o tempo de propaganda comercial. Entre os que assistiram à gravação, poucos tinham visto o programa anteriormente e o comentário geral era de que nunca a televisão desceu tão baixo.



REUNIÃO - Os dois Ministros deixaram a TV Nacional às 11h15m, tendo o professor Buzaid convocado o General Canepa para uma reunião em seu Gabinete. O General Canepa voltou a estar com o Ministro Buzaid na parte da tarde, debatendo-se a legislação sobre censura, pois havia várias hipóteses para enquadrar o apresentador Flávio Cavalcanti e o produtor Wilton Franco.



Desde o entendimento que o Ministro Alfredo Buzaid manteve na Guanabara, anteontem, com a direção da TV Tupi, estava acertada que não haveria punição para a emissora, pois esta desconhecia o script do programa. A ação do Ministro Buzaid foi iniciada praticamente na segunda-feira, pois a repercussão negativa alcançara, segundo alguns, a própria esfera da Presidência da República.



INTERROMPIDA - O diretor da Divisão de Censura e Diversões Públicas do DPF, Sr. Rogério Nunes, que se encontrava em férias, foi convocado extraordinariamente ontem pelo General Nilo Canepa, a fim de que fosse feito um estudo em conjunto sobre as providências a serem tomadas.



Na realidade, o Sr. Flávio Cavalcanti comunicou à Censura que levaria ao seu programa os personagens do caso do marido que emprestou sua mulher a um amigo. A Censura teria deixado passar o quadro e as perguntas, baseada em relatório da polícia mineira. Isso serviu para a Polícia Federal, onde se reconhece que é muito difícil exercer a censura prévia sobre um programa ao vivo, quando se tem em mãos somente as perguntas e não as respostas.



NÃO VOLTARÁ - No julgamento da penalidade a ser imposta ao Sr. Flávio Cavalcanti, influi consideravelmente o baixo nível dos programas que apresentou anteriormente. Em outras ocasiões, o próprio Ministro Alfredo Buzaid já tinha adotado providências para que o animador fosse advertido a respeito. O Sr. Flávio Cavalcanti já estava sendo observado pelas autoridades, pois em diversos quadros infringira vários artigos do Decreto 51 134.



Apesar de não haver nenhum comentário oficial a respeito, informava-se ontem que a volta do Sr. Flávio Cavalcanti às câmeras de televisão após a sua suspensão era considerada muito pouco provável. Isso seria uma atitude contrária aos princípios que devem nortear a programação de televisão, segundo pensamento de algumas autoridades.



UNANIMIDADE - Os deputados que viram a gravação do programa foram unânimes em condenar a exploração da ignorância e da miséria de gente humilde, como ficou evidenciado no quadro do marido que emprestou a mulher ao amigo. O líder do MDB, Sr. Aldo Fagundes, advertiu, no entanto, que embora alguma coisa precise ser feita pelas autoridades, não é indispensável recorrer "à força", pois o Governo dispõe do "instrumento legal necessário."



Na Câmara, o Deputado Padre Nobre reclamou medidas drásticas do Governo. Observou que "a Censura Federal, que se exerce tão drasticamente sobre fatos e assuntos políticos, não representa a mesma realidade quando em outras matérias que afetam a dignidade da nação."



Vários outros deputados condenaram também o programa. Um deles, o Sr. Cid Furtado (Arena-RS), disse que "o Sr. Flávio Cavalcanti está passando dos limites ao achincalhar a dignidade da pessoa humana, ferindo a consciência cristã do nosso povo."



A PORTARIA - É a seguinte, na íntegra, a Portaria 5/73 da Censura Federal, assinada pelo diretor Rogério Nunes:



"O diretor da Divisão de Censura e Diversões Públicas do DPF, no uso de suas atribuições legais e considerando:



1) Que o quadro intitulado "Flávio Confidencial", do "Programa Flávio Cavalcanti", transmitido no dia 11 do corrente mês pela Rede Tupi de Televisão, canal o6, da Guanabara, tratou de assunto contrário à moral e aos bons costumes, explorando de forma altamente negativa um fato infeliz, com grave desrespeito à família brasileira; e 2) que o "Programa Flávio Cavalcanti". em apresentações anteriores, por mais de uma vez, violou o disposto do Artigo 29, item I, do Decreto n° 51 134, de 03 de agosto de 1961, tendo sido advertido por essas reincidências.



Resolve:



I) Suspender de suas atividades artísticas, em todo território nacional, pelo prazo de 60 dias, contando a partir desta data, por infringência ao Artigo 2º, item I, do Decreto n° 51 134, de 3 de agosto de 1961, o diretor do referido programa, radialista Wilton Franco, e respectivo apresentador, Sr. Flávio Cavalcanti, de conformidade com o disposto no Artigo 117 do Decreto n° 20 493, de 24 de janeiro de 1946;



II) aplicar ao "Programa Flávio Cavalcanti" a pena de suspensão por 60 dias, a partir desta data, de acordo com o Artigo 117 do Decreto n° 20 493, de 24 de janeiro de 1946."



Presença de delegado é condenada em Minas - Belo Horizonte (Sucursal) - O Deputado Silo Costa (Arena) afirmou ontem na Assembléia Legislativa de Minas que absolutamente não aceita "a agressão ao povo brasileiro cometida domingo pelo animador de televisão Flávio Cavalcanti, que procurou diminuir ou menosprezar principalmente a família mineira."



Afirmou também que não aceita que o Secretário de Segurança de Minas "tenha autorizado o delegado a comparecer ao programa porque o considero um equilibrado. Mas é preciso notar que se Sua Excelência deu essa autorização, também ele é inexperiente e a Secretaria de Segurança do nosso Estado não pode ficar entregue a um homem inexperiente."



GRITO NACIONAL - O Sr. Silo Costa, depois de lembrar que jornais mineiros reagiram à altura, com entrevistas de autoridades focalizando o assunto, declarou que se sentia de certa forma reconfortado ao ver que jornais cariocas e paulistas - que trataram o assunto com o devido comedimento - também reagiram contra o animador, divulgando protestos da Câmara Federal e do povo de todos os Estados.



"A verdade é que há um grito nacional tem que haver porque o nível dos programas de televisão tem de melhorar."



PAÍS TEM O MAIOR NÚMERO DE APARELHOS - Santiago do Chile (AP-JB) - O Brasil tinha, no final da década de 1960, mais receptores de televisão do que todos os países latino-americanos, mas era superado pelo México e pela Argentina em número de estações transmissoras.



Segundo números divulgados ontem pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina (Cepal), o Brasil tinha 6,5 milhões de receptores em 1970 e apenas 50 estações. Na mesma ocasião, havia nos Estados Unidos 84,6 milhões de receptores e 2 703 emissoras.



1973 - Censura Apreende Novelas

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 16/2/1973

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CENSURA APREENDE NOVELAS



Brasília (Sucursal) - Por inflação à Portaria 15/70, a Censura Federal apreendeu, nesta capital, a novela 24 Horas de Angústia levada ao ar pela TV Rio-Brasília, e os capítulos 62 e 63 de Jerônimo, transmitida pela TV Brasília, da cadeia associada.



A apreensão ocorreu porque as emissoras não juntaram ao certificado de censura uma relação dos nomes dos autores das novelas, assim como dos diretores, produtores e dos artistas.







1971 - Cassada à TV

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 11/12/1971


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CORSETTI AVISA QUE GOVERNO VAI CASSAR TV



Brasília (Sucursal) - O Ministro das Comunicações, Sr. Higino Corsetti, advertiu ontem que o Governo federal não hesitará em cassar a concessão de canal de qualquer emissora de televisão que estiver funcionando mal ou irregularmente.



Anunciou que nos próximos dias levará ao Presidente Médici uma exposição de motivos pedindo a cassação da TV Continental e informou que outras emissoras, como a TV Rio, "andam mal" e, por isso, devem providenciar logo a sua melhoria para evitar uma punição drástica.



A CASSAÇÃO EXISTE



Recomendou o Ministro que de agora em diante é conveniente que todos passam a acreditar em cassações, pois elas existem. Lembrou ainda que há um limite no tempo de tolerância em relação às más condições de funcionamento das emissoras.



Nas próximas horas, o Ministro Higino Corsetti enviará a cada emissora carioca uma séria advertência segundo anunciou. Pedirá mais discrição na tomada de cenas de bailes do próximo carnaval. A advertência será formulada com base em processo examinado na última reunião do Contel. O processo, preparado no Dentel, pedia a cassação de quatro emissoras da Guanabara que entraram em pool, sob a liderança da TV Globo, para cobrir o carnaval de 1968.



O motivo do pedido, segundo o Ministro, foi o exagero dos operadores de câmera em captar os "ângulos esquisitos" - "imorais", segundo explicou mais tarde um assessor - dos bailes. Afirmou que a direção das emissoras deverá advertir seus operadores de câmera para que se contenham nas próximas festas ou troquem os operadores, "porque senão o Governo troca os proprietários da televisão."



- É bom não provocar - frisou - acrescentando que se houver reincidência de "ângulos esquisitos", a emissora poderá ser cassada.



FUNÇÃO DE CENSURA



Mais adiante, o coronel Higino Corsetti concordou que o Ministério das Comunicações realmente está desempenhando funções que poderiam ser atribuídas ao Serviço de Censura de Diversões Públicas da Policia Federal. Informou que até março deverá ser enviada ao Congresso uma nova legislação sobre telecomunicações, rádio e televisão na qual será especificada de uma vez por todas e de forma clara a função de cada órgão no trabalho de Censura.



A nova legislação incluirá dois códigos - um exclusivamente para telecomunicações (telex, telefones telégrafos) e outro para rádio e televisão. No código nacional de rádio e TV deverão ser expostas as idéias gerais disciplinando o assunto, enquanto um outro documento relacionará detalhadamente "as coisas que não devem aparecer na TV", explicou o ministro.



PROGRAMAÇÃO DE TV



Algumas das conclusões do relatório da comissão que examinou o nível da programação da televisão deverão ser incluídas nesse código. Ao comentar os estudos da comissão, o Ministro disse ser claro que ninguém vai exigir que as televisões apresentem balé, música clássica e outros programas de elevado nível cultural." Frisou que uma programação desse tipo será "muito chata." No seu entender, até programas de diversão podem melhorar de nível e educar o espectador e por isso podem muito bem ser apresentados pelas emissoras.



A nova legislação sobre telecomunicações, rádio e TV inclui ainda duas medidas consideradas importantes: a primeira transforma o Contel em órgão consultivo (atualmente ele delibera) e a outra subordina diretamente ao Ministro o Fundo Nacional de Telecomunicações. No momento, o fundo está subordinado à Embratel.



PLANO DE RADIODIFUSÃO



Nas próximas horas, o Ministro assinará uma portaria estabelecendo o plano de distribuição de canais de ondas médias para a Amazônia. O plano fixa o número de emissoras de rádio, comerciais e educativas, que poderão ser instaladas em cada Estado e território, além da freqüência e potência de cada uma. Assim, o Pará poderá ter 92 estações, e o Amapá, 11. Até agosto do próximo ano, várias das emissoras da região deverão mudar de freqüência para se adaptarem ao plano do Ministério das Comunicações.



Das 13 emissoras reservadas para o Acre, oito serão educativas. O Ministro explicou que mesmo as educativas poderão ser exploradas por particulares, desde que eles se disponham a aceitar as exigências governamentais quanto à programação. A emissora de maior potência da região amazônica será instalada em Manaus - a potência prevista é de 250 quilowatts.



Até o dia 15 de dezembro serão assinadas as portarias fixando o número de estações das outras regiões. O Ministro anunciou ainda que se pretende criar uma empresa para "tomar conta de todas as estações governamentais" e montar em Brasília uma emissora de grande potência. O seu som chegaria a todos os pontos do território nacional e ao exterior. "Seria a nossa BBC" disse o Ministro.



TV EM CORES



O Ministro marcou para próxima quinta-feira uma, reunião de representantes de emissoras de televisão, de fábricas e de órgãos do Ministério para tomar as providências finais necessárias ao funcionamento da TV a cores no pais."



Na reunião poderá ser fixado, inclusive, o preço dos receptores. Com base na afirmação de que toda atividade pioneira exige certa dose de sacrifício, o Ministro pedirá aos fabricantes que evitem vender muito caro os receptores. O encontro servirá ainda para estabelecer os dias de teste dos aparelhos e dos equipamentos das emissoras. Disse que deveriam ser lançados dois tipos de televisores: um popular e outro luxuoso.





1973 - Justificando a Censura

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 30/1/1973

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BARATA FALA DE COMUNICAÇÃO E AFIRMA QUE A VERDADE ÀS VÊZES PRECISA SER OMITIDA



A mensagem do comunicador deve ser simples, clara, exata e verdadeira em seu conteúdo moral, mas se às vezes a verdade tiver de ser omitida, que o seja. A afirmação foi feita ontem na Fundação Getúlio Vargas, pelo Ministro Júlio Barata, ao abrir o Curso de Comunicação Social para representantes dos diversos órgãos do Ministério do Trabalho.



Uma das boas normas da comunicação, segundo o Ministro, é respeitar a intimidade alheia, mesmo quando a comunicação tem por objetivo a catequese de um grupo, pois "nós não somos uma entidade isolada, necessitamos de outros seres que escolhemos para nos comunicar e para escolher textos que ser livres."



CITAÇÕES E COMPARAÇÕES - Fazendo a citação de diversos filósofos, políticos e sociólogos, em alemão, francês e latim, o Ministro Júlio Barata salientou o grande orador que foi Adolf Hitler - "um dos maiores da Europa" - que seguindo o que diz o livro Propaganda e Poder, sem o seu sentido ético, antes de fazer um apelo aos soldados alemães falava de coisas que dessem margem à hilaridade, para fazer relaxar os seus nervos, e depois usava do terror, ameaçando-os com um grande perigo.



- A mesma técnica é usada pelos americanos em seus filmes de suspense, podendo ser observado, principalmente, em O Poderoso Chefio e Operação França: sempre que uma cena mais forte está para vir, antes há um momento cômico. Isto também é muito usado nos filmes de terror feitos atualmente.



Citou ainda a técnica dos discursos em Parlamentos comunistas, quando o orador diz o principal no inicio de sua fala e depois fica durante duas ou três horas apenas cansando os assistentes para, no final, desfechar-lhes novo golpe, interligado ao assunto inicial.- A mensagem é a palavra, o gesto, o silêncio. A palavra escrita, a imagem, é conteúdo, e forma e, para ser eficaz, tem que atingir o homem em sua racionalidade, vontade, imaginação e sensibilidade. A boa comunicação deve fazer com que o indivíduo se lembre de algum fato em sua vida ou lhe dê esperança de vir a atingir os seus objetivos -disse o professor Júlio Barata.



O Curso de Comunicação Social, promovido pela Coordenação de Relações Públicas do Ministério do Trabalho, tem a finalidade de preparar a equipe que trabalha nas Delegacias Regionais, IPASE, SASSE, Funrural e nos órgãos para os problemas de relações sociais, devendo ser encerrado no dia 9 de fevereiro.



1971 - Charlatanismo no Chacrinha

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 2/9/1971


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CENSURA ESTUDA A SUSPENSÃO DE CHACRINHA E FLÁVIO



O Departamento de Censura Federal, seção da Guanabara, pediu à direção do órgão, em Brasília, a suspensão por oito dias dos programas Hora da Buzina, da TV Globo, e Flávio Cavalcanti, da TV Tupi, por terem apresentado, domingo último, um show de baixo espiritismo explorando a crendice popular e favorecendo a propaganda do charlatanismo.



O pedido de suspensão dos programas dominicais de maior audiência no Rio baseou-se na exibição de uma senhora de cartola, paletó, calcas compridas e capa bordada, conhecida também como Seu Sete da Lira, que, diante das câmaras, fumou charutos, distribuiu bênçãos, bebeu e espargiu cachaça,ILÍCITOS provocando no auditório uma histeria coletiva.



ATOS ILICITOS



A apresentação de Dona Cacilda - Seu Sete - seus acólitos e crentes na TV, embora contasse com a cobertura do Deputado Rossini Lopes da Fonte e do detetive Nélson Duarte, foi classificada no Departamento de Censura Federal como uma sucessão de atos ilícitos capitulados no Código Penal, na Lei das Contravenções Penais e no Decreto nº 20.493, de 24 de janeiro de 1946.



O Código Penal define como charlatanismo (Art. 283) o crime de "inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível", cominando para quem o pratica a pena de detenção, de três meses a um ano, e multa.



No Art. 27, a Lei das Contravenções Penais prevê a pena de prisão simples, de um a seis meses, a quem "explorar a credulidade pública, mediante sortilégios, predição do futuro, explicação de sonhos ou práticas congêneres."



Nos programas comandados pelos Srs. Flávio Cavalcanti e Abelardo Chacrinha Barbosa, Seu Sete, seus adeptos e as pessoas do auditório cantaram um samba em que Seu Sete começa onde a Medicina acaba", enquanto várias pessoas desfilavam diante dos apresentadores, para narrarem as curas milagrosas - até de câncer - recebidas no terreiro da seita, em Santíssimo.



Ae ontem à noite, o Chefe da Censura Federal, Sr. Jeová Cavalcanti, informava em Brasília não haver ainda recebido qualquer pedido da seção carioca do Departamento, para a suspensão da Hora da Buzina e do Programa Flávio Cavalcanti.



A apresentação de Seu Sete nos programas de televisão preocuparam as autoridades religiosas e o Cardeal Dom Eugênio Sales, que incluiu o assunto na reunião de hoje dos vigários episcopais da Guanabara.



As autoridades religiosas acham que muito longe de se constituir numa peça folclórica, o que as televisões exibiram no domingo foi uma mostra de subcultura que colocou o Brasil em igualdade de condições com os países mais atrasados do mundo.



Segundo fontes do Palácio São Joaquim, Dom Eugênio vai emitir uma nota oficial sobre o assunto, provavelmente no seu programa A Voz do Pastor desta sexta-feira.



EM ESTUDOS



Brasília (Sucursal) - O Governo federal está estudando que medidas tomará, nos próximos dias, para eliminar, de vez, a mediocridade de uma série de programas de televisão, considerados como "bastante ofensivos à cultura brasileira."



- São programas chinfrins - disse textualmente uma autoridade, comentando em seguida que os shows transmitidos ao vivo para vários Estados brasileiros atingiram, no domingo passado, os "limites intoleráveis de mediocridade."



Os video-tapes desses programas estão sendo examinados em Brasília por uma comissão de censores e autoridades. Uma delas é o próprio diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General Nilo Canepa, a quem deverá caber a iniciativa dos atos punitivos.







1971 - Trabalhadores, Não!

VEJA


Data de Publicação: 17/2/1971

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NOVELA OPERÁRIA



O tempo de um ministro é muito precioso e certamente nenhum deles jamais pensou em dedicar uma parte dele a discussão de telenovelas. Na semana passada, entretanto, o ministro Júlio Barata, do Trabalho e Previdência Social, não hesitou em passar quase duas horas numa longa e animada conversa sobre a próxima novela da TV Tupi, de São Paulo, "A Fábrica", (a partir de 1.º de março às 19 horas) com o seu autor Geraldo Vietri e o ator Juca de Oliveira.



"Eu confesso que fui com um pouco de medo", diz Vietri. "Afinal, o homem devia ter coisas mais importantes para tratar."



Vietri procurou o ministro, apesar de a Censura já ter aprovado os primeiros capítulos, para mostrar um resumo de sua história e saber se havia alguma restrição, por parte do Ministério, ao assunto e aos problemas abordados. E acabou surpreendendo-se: o ministro já o conhecia de outras novelas. "Você sabe dizer as coisas do modo certo", disse a Vietri, referindo-se a "Nino, o Italianinho", que acompanhou inteira. Embora concordando que o tema "é bastante delicado", o ministro leu o resumo e apenas recomendou cuidados em certas abordagens, como no caso de greves, no relacionamento entre empregados e patrões, e nas críticas a instituições. ("O INPS, por exemplo, você pode apontar suas falhas, desde que não o desmoralize como instituição.")



A história dc ''A Fábrica," cujos primeiros capítulos já estão sendo gravados com um elenco de 32 atores, que vai custar mais de 200 000 cruzeiros mensais de salários para a Tupi, gira em torno de um líder operário (Juca de Oliveira) e a dona de uma tecelagem onde ele trabalha (Araci Balabanian). Os personagens são todos operários da Tecelagem Santa Isabel (assim se chama a fábrica) e, entre as inevitáveis tramas amorosas que urgirão entre eles, Vietri quer mostrar problemas trabalhistas (no primeiro capítulo há uma greve): "A maioria dos nossos trabalhadores", diz ele, "não conhece as leis que existem para protegê-los. Nessa fábrica da novela há algumas injustiças (não pagamento de férias, 13.º salário, fundo de garantia, condições de trabalho, refeitório) e nós mostramos como eliminá-las, simplesmente usando a lei". Apesar de afirmar que não pretende dar um final comum para a história, dificilmente Vietri poderá evitar uma paixão irresistível entre a dona da fábrica e o líder operário, que acabarão casando para felicidade de todos da Tecelagem Santa Isabel.



Porque acima de tudo "A Fábrica" tem uma função: tirar a Tupi da sua má fase em novela.







1970 - Novela à meia-noite

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 8/5/1970


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CENSURA QUER BETO APÓS A MEIA-NOITE



Beto Rockefeller é novela para ser exibida depois da meia-noite, quando as crianças e os jovens estão dormindo - disse ontem o chefe do Serviço de Censura Federal, Sr. Wilson Aguiar, ao ator principal da novela, Luís Gustavo.



Afirmou que a mensagem de Beto é má para a juventude, porque nela os maus têm êxito - o mau-caráter e a prostituta vencem na vida. Após a conversa, o ator confessou que está impressionado com a "cultura brutal" e a "inteligência" do Sr. Wilson Aguiar.



O ator foi ao chefe da Censura Federal tentar uma liberação rápida do filme Beto Rockefeller, pois pretende lança-o em São Paulo, na próxima semana. Quer, também, o filme sem cortes e com proibição apenas para menores de 10 anos. "Se o proibirem para menores de 18 anos disse, eu perco 2 bilhões de cruzeiros velhos." O chefe do SCDP ficou de assistir ao filme, na manhã de hoje.







1969 - JB contra a Censura

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 30/8/1969

Editorial

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FRESTA NA CENSURA



A censura ao freqüentador de cinemas em nosso pais criou, por paralelismo, uma censura ao mercado de filmes, impedindo que obras de arte autênticas, dirigidas a um público acima do nível médio, sejam exibidas com regularidade. Quando um desses filmes aparece por acaso, em meio a um lote arrematado nos estúdios estrangeiros, a exigência do certificado de censura trava em geral a sua apresentação, mesmo em salas especiais.



É contristador verificar-se que os circuitos de cinema de arte, inclusive o Museu da Imagem e do Som, estejam sujeitos a uma seleção prévia dos censores federais, a quem entregamos, forcados, o juízo do nosso gosto estético. São eles os críticos primeiros da nossa critica, e como viciaram a capacidade de julgamento na censura de filmes destinados ao grande público, impõem toda uma gama de convencionalismo a setores mais sofisticados da inteligência brasileira.



Náo nos referimos especificamente ao cinema tipo underground, mas à obra de arte cinematográfica que, como tal, goza de privilégios e isenções especiais nos. países de tradição cultural assentada. Esses filmes, feitos sem espírito de concessão ao chamado gosto popular, que se contenta via de regra com receitas pré-fabricadas, ou náo chegam ao Brasil ou, se importados, sofrem cortes e mutilação que desfiguram inteiramente suas intenções originais.



Ainda recentemente, dois cineastas brasileiros, aos mais lúcidos desta geração, se comprometeram a importar o mais recente filme de um mestre, Bunuel; mas como bons conhecedores dos arroubos puritanos da nossa censura, condicionaram o-pagamento à possibilidade de liberação integral, aqui, da obra. São distorções que em nada nos recomendam como nação ansiosa por um amadurecimento de concepção e de ideal civilizatório.



A censura no Brasil, além de todo-poderosa nos seus conceitos e hipersensível nos seus pruridos pretensamente moralizantes, tem no critério das massas a sua diretiva única. Isso cerceia o acesso a obras fora dos padrões comuns da indústria - cinematográfica, estabelecendo uma popularização que, por ser dirigida, nega os fundamentos de liberdade essenciais à criação e difusão das manifestações do espírito.



O fato ainda é mais lamentável quando se constata que as restrições no terreno artístico são acentuadas pelo tabelamento das salas de espetáculos, o que amesquinha o mercado e desestimula por completo o aparecimento de salas mais nobres onde se possa satisfazer o gosto apurado A censura e o tabelamento, juntos, constituem veículos de nivelamento cultural por baixo, e em termos de indústria e comercialização sufocam o engenho e abastardam a arte.



Temos um Instituto Nacional do Cinema e dele se espera uma ação pioneira que se traduza logo em afirmação cultural Acima das suas atribuições normais de controlar a arrecadação e fornecer estímulos, paira, indevassada ainda, uma missão didática de amplas possibilidades e conseqüências. Concebido originalmente como meio de entretenimento, o cinema se afirma cada vez mais como instrumento de cultura, e nesse contexto requer um planejamento racional a que a autoridade pública não pode ficar indiferente.



Precisamos dar ao público espectador oportunidade de opção além dos bangue-bangues importados em massa e que aferem mal o nosso quociente de inteligência. O filme de arte tem sido até aqui uma exceção tratada como exceção por exibidores e censores. Sem um programa que derrube critérios arcaicos de julgamento e divulgação, semeando salas de espetáculos para todos os gostos, jamais extrairemos do bom cinema as suas virtudes de expositor de idéias e conflitos humanos. O cinema, como arte, existe para sublimar o espírito, jamais para amortecê-lo ou anestesiá-lo pela vida afora.



1967 - Os 17 Cavaleiros da Censura

Revista Realidade


Data de Publicação: 1/6/1967

Autores: José Carlos Marão e Afonso de Souza


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ISTO É PROIBIDO!



Em Brasília, 17 funcionários públicos decidem que filmes crianças podem ver, o que os adultos podem ver e o que ninguém pode ver. Com esses 17 homens está o poder de decretar



Ele aparece todos os dias, em todos os filmes - desde um desenho animado até uma tragédia mexicana.



Ele trabalha atrás de uma mesa de aço, no quarto andar de um edifício de paredes de vidro, em Brasília.



Mais criticado que elogiado, é ele quem determina o que o brasileiro pode e o que não pode ver no cinema.



Ele é o censor, e nas telas seu nome e assinatura nunca falham: "A. Romero do Lago, chefe do Serviço de Censura de Diversões Públicas".



- Trabalho de censor desperta curiosidade muito grande - comenta um pouco vaidoso.



Romero do Lago chefia uma equipe de 16 homens, encarregada de cortar, dos filmes, cenas que - segundo eles - chocam, despertam violência, ofendem o decoro público ou subvertem. Com nível de cultura de média para baixo, esses 16 cidadãos têm o poder de proibir filmes para menores, cortar cenas e até interditar uma fita inteira.



Já houve tempo que se limitava um filme "impróprio para menores até..." só pelo título. Hoje não. Todas as fitas, nacionais ou estrangeiras são vistas.



O chefe Romero do Lago, porém, não gosta de cinema. Quase nunca entra na sala de projeções do departamento. Sem confessar sua indiferença, explica que não assiste aos filmes para poder opinar posteriormente, em grau de recurso, sobre qualquer dúvida surgida entre os censores.



A equipe agüenta ver quatro filmes de longa metragem por dia, mais um tanto de documentários e jornais cinematográficos. A ordem de exibição é a de chegada, mas os nacionais têm preferência. Os censores trabalham em grupos de dois, três ou quatro. No subsolo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (onde a Censura ocupa metade do quarto andar), eles têm uma sala de projeção: 300 lugares, luz e som perfeitos.



Depois de visto o filme, cada censor dá seu parecer por escrito. Se houver empate, Romero do Lago, ou um segundo grupo de censores, desempata. Se não houver, Augusto da Costa, que já teve seu nome conhecido no Brasil inteiro, pois foi o beque da Seleção Brasileira na Copa de 1950 - recebe os pareceres, prepara os certificados, passa ao chefe para assinar e despacha aos distribuidores.



Funcionários federais (dos níveis 17 e 18), os censores ganham no máximo NCrS 356,50 por mês e só podem ter outro emprego se forem jornalistas.



O CENSOR NASCEU DE UM BEIJO



A censura do cinema começou um pouco antes do cinema. Em 1896, no filme A Viúva Jones (do tempo da lanterna mágica), Mary Irvin e John C. Rice assustaram o público americano com um beijo mais ou menos longo. Membros do clero, escandalizados, denunciaram a fita como a lyric of the stockyards (um lirismo de matadouro).



Estava criada a censura. O censor oficial foi a conseqüência.



No Brasil, 71 anos depois, o censor é um funcionário público que ainda faz restrições aos beijos:



- O beijo passa, é claro, mas se o galã começa a dar mordidinhas nos lábios da mocinha, aí vamos estudar o caso.



No estudo do caso, há pelo menos 16 critérios para julgar o que o povo não pode ver: um para cada censor. Além da orientação geral de Romero do Lago, através das portarias que vai baixando.



Serviço de Censura de Diversões Públicas foi criado em 1946, dentro do Departamento Federal de Segurança Pública (hoje Departamento de Polícia Federal). Na mesma ocasião foi feito um regulamento de 136 artigos, onde só um - o "41" - fala dessas coisas que são proibidas: "Será negada a autorização sempre que a representação" exibição ou transmissão: a) contiver qualquer ofensa ao decoro público; b) contiver cenas de ferocidade ou for capaz de sugerir a prática de crimes; c) divulgar ou induzir aos maus costumes; d) for ofensiva à coletividade ou às religiões; e) puder prejudicar a cordialidade com outros povos; f) for capaz de provocar o incitamento contra o regime vigente, à ordem pública, às autoridades e seus agentes; g) ferir, por qualquer forma, a dignidade e o interesse nacional; h) induzir ao desprestigio das forças armadas."



São proibidas por lei, portanto, entre outras, cenas que ofendem o decoro público. Mas como até hoje ninguém definiu nem indicou quando o decoro público é ofendido, os censores usam, para julgar, a intuição e o bom senso pessoal.



BAIANO NÃO ENTENDE "O SILÊNCIO"?



Todo censor é a favor da censura: - Como é que aquela gente do interior da Bahia vai entender ou suportar um filme como O Silêncio, se não for cortado?



A frase é de Pedro José Chediak, que antecedeu Romero do Lago na chefia do departamento. O Silêncio, filme de Ingmar Bergman, premiado no mundo inteiro, saiu da censura brasileira com quatro cortes de cenas consideradas imorais: duas de relações sexuais, uma de masturbação e outra em que aparece um seio de mulher. Apesar de alguns dos censores admitirem que foram filmadas tão sutilmente que não chegavam a ferir o decoro público, Chediak foi categórico:



- O Silêncio não tem mensagem nenhuma, é vazio. O Ingmar Bergman fez fama e deitou na cama.



A VEZ DA SUBVERSÃO



Recentemente, o filme nacional Terra em Transe, de Glauber Rocha, foi submetido à censura, sendo inicialmente interditado por cinco votos contra um. Romero do Lago nem precisou ver o filme; examinou os pareceres e deu o veredicto:



- Realmente esse filme leva uma mensagem marxista de subversão da ordem.



José Vieira Madeira, o único censor que opinou por sua liberação, pensa diferente:



- O filme é pura ficção, que pode ter semelhança com o Brasil de hoje, mas pode ter também com outros países latino-americanos. É exagero dizer que o tirano do filme seja Castelo Branco e o Governador do Estado do Alecrim seja João Goulart.



Enquanto isso Terra em Transe era inscrito no Festival de Cannes, na França.



O recorde de cortes na censura é de um filme também nacional: Noite Vazia; de Walther Hugo Khouri. Cinco cenas foram cortadas - a considerada mais forte era aquela em que Norma Benguel e Odete Lara apareciam numa cama. Essa cena teve que ser exibida só com o começo e o fim, sem o meio.



Outro filme brasileiro, Canalha em Crise, só foi liberado dois anos e meio depois de sua entrada no departamento. Nesse período houve trocas na chefia e, quando a fita ia sendo liberada por uma equipe, Miguel Borges, o diretor, não concordava com os cortes e entrava com o recurso. De mudança em mudança, afinal, Canalha em Crise saiu de Brasília - depois de dois anos e meio - com duas cenas de sexo a menos, e ainda deixando os censores preocupados, porque é o bandido quem ganha no fim.



Mas acontecem coisas ainda mais estranhas: Katu no Mundo do Nudismo, liberado com alguns cortes, encontra-se em exibição. Enquanto isso, seu trailler_ está há vários meses aguardando liberação, pois chegou a Brasília atrasado.



Viva Maria, francês, foi liberado por acaso: tinha sido interditado pelos censores por ser considerado subversivo. Acontece que ao mesmo tempo o general Riograndino Kruel - então diretor do Departamento de Polícia Federal - via o filme em exibição especial e dava boas gargalhadas com as ''guerrilheiras'' Brigitte Bardot e Jeanne Moreau.



Quando soube da interdição, não achou graça nenhuma. Chefe do chefe da censura, mandou que Viva Maria fosse liberado.



Pode acontecer também que o público nem fique sabendo que certos filmes entram no Brasil. Delírio Noturno, japonês, foi devolvido pela censura para reexportação, por "imoral e antiestético''. Outros começam a passar e depois são apreendidos: Tentação Morena, mexicano, teve sua exibição interrompida em Belo Horizonte. Os distribuidores tinham esquecido de tirar daquela cópia uma cena cortada pela censura, em que a atriz Izabel Sarli toma banho num rio, completamente nua.



MAS NEM SÓ SEXO E SUBVERSÃO DÃO TRABALHO AOS CENSORES



- Crime com arma branca que tem sangue, eu corto - diz um dos homens do serviço.



005 contra o "strip-tease"



O ex-chefe Chediak baixou uma portaria - de número 005 - proibindo o strip-tease para todo o território nacional. Romero do Lago derrubou essa portaria. Agora o strip-tease não é mais proibido, desde que as câmaras estejam a mais de cinco metros do objetivo. Isso é o que diz a nova portaria, que assim exige um requisito a mais dos censores: golpe de vista.



Além dessa liberalidade, Romero do Lago juntou uma importante inovação ao Serviço de Censura de Diversões Públicas:



- O SCDP -diz ele - concederá certificados especiais de censura cinematográfica a filmes considerados de valor educativo, para exibição em entidades culturais, onde entidade cultural é definida como universidade, cinemateca, fundação cultural ou cineclube filiado à Associação Brasileira de Cinema de Arte.



Veridiana, de Luiz Bunel, foi o primeiro a obter essa categoria de filme de valor educativo" tendo sido liberado integralmente" com a condição de não ser exibido comercialmente. Antes da portaria, o filme fora censurado e cortada uma cena em que um grupo de mendigos se banqueteia numa mesa com talheres finíssimos, num salão medieval, durante a ausência dos donos da casa. A cena é uma paródia da passagem bíblica pintada por Leonardo Da Vinci.



Augusto da Costa, o ex-beque da seleção, afirma:



- É uma tentativa de ridicularizar a Santa Ceia, e o filme é anticlerical.



Antônio Fernandes de Sylos, um dos censores, está com o beque:



- E quem é que garante que não é mesmo a Santa Ceia?



PROIBIDO PARA CENSORES



Extraconjugal, filme italiano com quatro histórias, entrou na censura normalmente. A última das histórias deu um susto nos censores: era forte demais. Resolveram interditar a fita a não ser que aquele episódio fosse eliminado.



Os distribuidores entraram com recurso, pedindo reexame. Extraconjugal foi revisto e a censura acabou autorizando a emissão do certificado, mas proibindo o filme para menores até 21 anos. Assim, um brasileiro de 18 anos, pode ser eleitor, funcionário público (e até censor), mas está proibido de ver a fita.



Não existe nenhuma lei, decreto ou portaria que permita proibir filmes em estágios fora dos níveis de 10, 14 e 18 anos. Uma vez ou outra, porém, há essas exceções: Dr. Jivago, de custo caríssimo, tinha sido proibido para menores até 18 anos. Os distribuidores, desesperados, apresentaram recurso. Resultado - foi proibido para menores até 16 anos. Afinal, o filme mostrava muita guerra, um herói que vivia feliz com a amante e.. o romance fora proibido em seu pais de origem, a Rússia.



Mas não são apenas essas as fórmulas de censura vigentes no Brasil. Cinemas de propriedade de padres e igrejas, principalmente nas cidades do interior, de vez em quando suspendem a exibição de algum filme, quando os gerentes foram enganados pelo titulo, na escolha do programa mensal.



Há pouco tempo, em Niterói, o governador do Estado do Rio, Jeremias Fontes, que é protestante, censurou a própria censura. Rasgou e jogou no lixo uma foto de mulher nua que encontrou emoldurada, carimbada censurado, enfeitando a mesa do chefe da censura estadual.



QUEM ESTÁ CONTRA A CENSURA



Nem todos, porém, pensam como o governador Jeremias Fontes. Entre os intelectuais brasileiros, por exemplo, será difícil encontrar-se alguém favorável à censura. Para Carlos Diegues, cineasta, diretor de Ganga Zumba e A Grande Cidade, "não deveria existir censura nenhuma". Esta é a sua opinião:



-- Sou contra qualquer tentativa de impedir a expressão livre de quem quer que seja.



Por outro lado compreendo os motivos pelos quais o Estado se protege através de instrumentos odiosos como o da censura: ele precisa se precaver contra as "doenças sociais", animadas, quase sempre, pelo livre pensamento condutor da opinião pública e da crítica. A censura moral encobre, no final das contas, a censura política. E é em nome desta que se faz a primeira. Para quem faz cinema (ou qualquer outra coisa) a presença da censura é asfixiante, estamos sempre medindo nossa possibilidade de enfrentá-la. A única maneira de conviver com ela, já que é impossível evitá-la, é lutar pela sua liberalização, tentar fazé-la progredir, para que possa se transformar num instrumento menos obscuro, como já é em tantos países do mundo. O melhor modo para se chegar a isso é estabelecer uma discussão da qual ela sairá, quase que fatalmente, mais moderna.



"SOU CONTRA QUALQUER TIPO DE CENSURA"



O jornalista, ensaísta e crítico literário Paulo Francis faz comparações entre o Brasil e os Estados Unidos:



- Sou contrário a qualquer tipo de censura: política, moral etc. É evidente que o excesso de liberdade pode acarretar alguns excessos anárquicos. Mas está provado, pela experiência de países como os Estados Unidos, que qualquer sociedade civilizada é perfeitamente capaz de absorver esses excessos sem nenhum prejuízo para a sua estrutura. Um bom exemplo é a peca Mac Bird, onde o presidente Johnson é explicitamente acusado de haver assassinado o presidente Kennedy. A peça não foi censurada, e o govêrno Johnson não caiu.



Isto é válido também para a censura dos livros ditos obscenos. No Brasil, em particular, a censura tem sido um fator de obscurantismo político e sexual. Um bom exemplo do primeiro caso foram as apreensões de livros no governo Castelo Branco; e, no segundo, as apreensões de livros como O Casamento e Fanny Hill. Uma sociedade que não pode ler a respeito de um ato fisiológico normal, como é o sexual, não está preparada para o desenvolvimento industrial e para a era da tecnologia.



"CRÍTICA SIM, CENSURA NÃO"



Josué Montelo, escritor e membro do Conselho Nacional de Cultura, também condena a censura:



- Só aceito como válida à obra de arte a censura feita em nome de princípios de ordem estética. E esta é exercida ou pelo artista - no momento da criação - ou pelo espectador, diante da obra realizada. Esta censura chama-se crítica e só interfere na criação por iniciativa de seu criador. Fora dai, a censura aparece numa faixa de ordem ética. Fala a moral onde deveria falar a estética. Ora, a obra de arte deve ser permanente, como mensagem humana, enquanto os princípios de ordem ética - onde a censura se baseia - variam com o tempo e as latitudes.



"O CENSOR VIVE ASSUSTADO"



O JURISTA EVARISTO DE MORAIS VÊ O PROBLEMA ASSIM:



- A censura, do ponto de vista jurídico, pouco se diferencia da censura do ponto de vista sociológico. Pois ela representa nada mais do que aquele controle social, difuso e inorganizado, mas formal e institucionalizado através de códigos, leis e tribunais e policias. Em qualquer país do mundo, a censura é sempre a defesa da ordem social e econômica constituída. Por isso mesmo, o govêrno - apesar de todas as criticas - prefere sempre a censura prévia, em lugar da exercida depois do fato consumado, com plena responsabilidade de seu autor. Com a censura prévia o que se procura é evitar que o público tenha conhecimento daquilo que poderá causar dano aos valores, interesses e crenças dos poderes constituídos. Infelizmente, salvo raras exceções, os censores vivem assustados e vêem atentados contra a ordem dominante por toda parte, mutilando as livres criações do espírito humano.



"ELA CRIA HIPÓCRITAS"



Napoleão Moniz Freire autor e atualmente do Departamento de Teatro da Guanabara, encerra a série de críticas:



- Há um perpétuo conflito, na marcha do mundo, entre o bem e o mal. Existe a idéia. Existe a liberdade de pensamento. Existe a liberdade de opinião, de exame e deliberação. A liberdade de expressão sofre, às vezes, censura. Acontece que, existindo a liberdade de pensamento e a de opinião, não será a censura que irá eliminar a idéia. Uma idéia só poderá ser eliminada quando voar e sofrer o embate da dignidade. Nunca será eliminada pela censura, que somente cria hipócritas.



1978 - Censura Estalinista

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 6/9/1978

Autor/Repórter: Pauo Maia


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UM COPO DE CRISTAL E SUA LUZINHA AZUL



Conheci Cacá Diegues rapidamente quando participamos juntos, como convidados especiais, do Festival de Inverno de Areia, na Paraíba. Conversamos e o papo foi tão bom que terminei gostando de um filme dele de que não havia gostado quando da estréia (Joana, a Francesa). Agora, quando lança esse lindo Chuvas de Verão, Cacá denuncia os ''patrulheiros ideológicos'' que querem combater os "horrores do capitalismo" com internamentos em hospitais psiquiátricos. Novamente lúcido, Diegues ataca essa avalancha da disfarçada censura estalinista, numa entrevista de página inteira à critica Pola Vartuck, de O Estado de São Paulo.



A denúncia do diretor de Xica da Silva se mostra válida num momento em que os "patrulheiros ideológicos" do estalinismo burro continuam atacando tudo o que represente pluralismo e que esteja fora dos rígidos dogmas daquilo que eles acham que Marx escreveu (e não sabem, porque, na verdade, Marx é uma leitura muito difícil para eles). São esses "patrulheiros" que escrevem por ai que o documentário sobre o Major Teodorico Bezerra, apresentado pelo Globo Repórter há 15 dias, atende aos interesses do semifeudalismo rural nordestino. Na verdade, o documentário, de Eduardo Coutinho apenas mostra um aspecto da realidade brasileira e que essa gente, que acha que o mau gosto deve sempre estar à esquerda e o bom gosto à direita, vê o filme como favorável a tudo o que o Major Teodorico representa simplesmente porque não consegue enxergar além de sua própria paranóia.



Aliás, os "patrulheiros" existem mesmo e estão por ai espalhando que rir das piadas políticas do Planeta dos Homens é mais reacionário do que empunhar os estandartes vermelhos da TFP. Bem diz Cacá Diegues que eles acham que o mau humor está sempre à esquerda do bom humor e se neurotizam para explicar que o sucesso fica invariavelmente à direita do fracasso. Aí a gente fica tentado a pensar quem é contra o documentário de Eduardo prefere mesmo os enlatados e quem anda dizendo por aí (como Henfil disse em Piracicaba, no V Salão de Humor) que o humor e a liberdade de imprensa são concessões em troca da popularização do General Figueiredo é a favor da censura. Afinal de contas, ''eles'' não vivem por aí se dando ao luxo da cobrança sistemática de todo quanto dizem Pelé e Gilberto (afinal, "patrulheiro ideológico'' que se preze é sempre racista)



Esse pessoal vai começar a escrever já que o novo Papa, Paulo I, é de direita porque apoiou os candidatos comunistas ao Parlamento italiano. Felizmente essas leituras não me comovem muito. Aliás, parecem comover pouca gente. Prefiro achar com Albino Luciani uma simpatia e é com profundo do gozo que vejo, mais uma vez, a televisão européia provar que é uma falácia esse negócio de dizer que a televisão brasileira é uma beleza tecnicamente. Quem viu no domingo a missa com que João Paulo I iniciou seu pontificado já sabe que nosso pessoalzinho aqui tem muito que aprender.



Só que, para aprender, é preciso humildade. E a maioria do pessoal de televisão no Brasil (falo da gente de cima) está mais para o pavão do que para a formiga. Vejam o caso do Guga, esse rapaz simpático que entrou para cúpula da televisão brasileira por vias fraternais. Ele demitiu o comentarista internacional Newton Carlos da Rede Bandeirantes porque acha que a sangreira da Nicarágua e os golpes de Estado da Bolívia são menos importantes do que as sinopses da Agência Nacional. Não é mesmo uma gracinha o Guga? Falaram até em motivos estéticos. Mas, pensando bem, Maria Cláudia não daria uma boa comentarista internacional, vocês não acham? De qualquer maneira, qualquer que tenha sido o critério, a verdade é uma só: é muita pretensão de Guga demitir Newton, Carlos, não porque ele seja mais bonito do que o autor de América Latina Dois Pontos, mas simplesmente porque Newton Carlos é profissional e Guga, bem, vocês sabem, não é propriamente um amador, mas sua profissão, pelo menos a mais definida até o momento, é a de irmão mesmo. E irmão do Boni, o criador do tal padrão de qualidade da Globo.



Como diria o velho Adhemar de Barros, Guga não é do ramo. Ou melhor, é de galho sim, só que apenas da árvore genealógica. E Newton é do ramo. Garanto que ele não diria, em seus comentários, por exemplo, que o professor Cláudio Lembo é o líder da Arena na Assembléia Legislativa, do Estado de São Paulo. Como fez o redator do programa Fantástico de domingo passado, que chamou o candidato da Arena paulista ao Senado, pela via direta, de deputado estadual e colocou letreiro embaixo, enquanto Lembo metia o pau na TFP. Convém que o pessoal do telejornalismo da Globo peça o currículo de Lembo à sua simpática secretária, Márcia. Para ir adiantando o expediente, fiquem sabendo que ele não é e nunca foi deputado nem mesmo vereador, mas sim professor de Direito (dirigiu a Faculdade de Direito da Mackenzie em Paulo), tendo deixado um cargo no Departamento Jurídico do Banco Itaú para assumir a Secretaria dos Negócios Extraordinários da Prefeitura de São Paulo, abandonada, por sua vez, recentemente, para que pudesse concorrer ao Senado com poucas possibilidades, de vitória, contra Franco Montoro, e Fernando Henrique Cardoso, do MDB. Essa foi de doer, hein, Zé Itamar de Freitas?



Bom, mas voltando ao Guga, seu assessor de comunicação, João Dória, soltou um editorial no boletim de programação da Bandeirantes mostrando que esse negócio de confiar em índices de audiência tipo IBOPE já era. Que o digam os críticos norte-americanos citados pelo rapaz. Estou de acordo. Tanto é que, quando a maioria preferia ver o jogo-exibição de uma seleção internacional contra o Cosmos de Nova Iorque pela Bandeirantes (brindados foram aliás com dois lindos gols de Rivelino e Chinaglia e com uma jogada genial de Cruyff), preferi ver um Caso Especial da Globo. Um belo momento da ficção da televisão este ano no Brasil foi O copo de Cristal, uma adaptação de Luís Carlos Maciel de um conto de Jerônimo Monteiro, dirigida por Bento Pinto de Franca, com fotografia assinada por Peter Gasper e o elenco formado por Carlos Kroeber, Jece Valadão, Natália Thimberg e Fábio Máximo.



Quem viu o programa sabe a história: de um copo de cristal emergia uma tênue luz azul em que cada personagem via sua verdade, para alguns uma perspectiva apavorante, para Outros a libertação. Quem não tem medo de ver a luzinha azul do copo de cristal tirou proveito de leituras das entrevistas de Wilson Martins e Cora Ronai Vieira (neste Caderno B, semana passada) e de Cacá Diegues a Pola Vartuck, como aprendeu suas lições quando viu Chuvas de Verão no cinema ou O Imperador do Sertão na televisão. Sabe, por exemplo, que falar mal do filme de Eduardo Coutinho é fazer parte desse lobby da cultura urbana carioca-paulista, já bastante infiltrada da verdade norte-americana, que procura massacrar a riqueza da variedade regional deste país, conforme já andou denunciando, por exemplo, o crítico Flávio Pinto Vieira. Outros teriam motivos para se arrepender. Guga, por exemplo, vendo-se no copo, teria humildade suficiente para se reconhecer um amador diante de um profissional como Newton Carlos. E os "patrulheiros ideológicos" veriam quão próximos estão da censura policial do Ministério da Justiça, que tanto, semanticamente, eles condenam. Mas como não há copo de cristal sobrando por aí (há mesmo é copinho de papel, descartável), o negócio é ter paciência para suportar isso tudo. E peito para desabafar. Como fez Cacá.



E para concluir, já que falei em desabafo, vale a pena lembrar o do General Otávio Costa na Escola Superior de Guerra. Tudo bem, como diria Arnaldo Jabor. E daí?