Thursday, December 27, 2012

1971 - Charlatanismo no Chacrinha

Jornal do Brasil


Data de Publicação: 2/9/1971


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CENSURA ESTUDA A SUSPENSÃO DE CHACRINHA E FLÁVIO



O Departamento de Censura Federal, seção da Guanabara, pediu à direção do órgão, em Brasília, a suspensão por oito dias dos programas Hora da Buzina, da TV Globo, e Flávio Cavalcanti, da TV Tupi, por terem apresentado, domingo último, um show de baixo espiritismo explorando a crendice popular e favorecendo a propaganda do charlatanismo.



O pedido de suspensão dos programas dominicais de maior audiência no Rio baseou-se na exibição de uma senhora de cartola, paletó, calcas compridas e capa bordada, conhecida também como Seu Sete da Lira, que, diante das câmaras, fumou charutos, distribuiu bênçãos, bebeu e espargiu cachaça,ILÍCITOS provocando no auditório uma histeria coletiva.



ATOS ILICITOS



A apresentação de Dona Cacilda - Seu Sete - seus acólitos e crentes na TV, embora contasse com a cobertura do Deputado Rossini Lopes da Fonte e do detetive Nélson Duarte, foi classificada no Departamento de Censura Federal como uma sucessão de atos ilícitos capitulados no Código Penal, na Lei das Contravenções Penais e no Decreto nº 20.493, de 24 de janeiro de 1946.



O Código Penal define como charlatanismo (Art. 283) o crime de "inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível", cominando para quem o pratica a pena de detenção, de três meses a um ano, e multa.



No Art. 27, a Lei das Contravenções Penais prevê a pena de prisão simples, de um a seis meses, a quem "explorar a credulidade pública, mediante sortilégios, predição do futuro, explicação de sonhos ou práticas congêneres."



Nos programas comandados pelos Srs. Flávio Cavalcanti e Abelardo Chacrinha Barbosa, Seu Sete, seus adeptos e as pessoas do auditório cantaram um samba em que Seu Sete começa onde a Medicina acaba", enquanto várias pessoas desfilavam diante dos apresentadores, para narrarem as curas milagrosas - até de câncer - recebidas no terreiro da seita, em Santíssimo.



Ae ontem à noite, o Chefe da Censura Federal, Sr. Jeová Cavalcanti, informava em Brasília não haver ainda recebido qualquer pedido da seção carioca do Departamento, para a suspensão da Hora da Buzina e do Programa Flávio Cavalcanti.



A apresentação de Seu Sete nos programas de televisão preocuparam as autoridades religiosas e o Cardeal Dom Eugênio Sales, que incluiu o assunto na reunião de hoje dos vigários episcopais da Guanabara.



As autoridades religiosas acham que muito longe de se constituir numa peça folclórica, o que as televisões exibiram no domingo foi uma mostra de subcultura que colocou o Brasil em igualdade de condições com os países mais atrasados do mundo.



Segundo fontes do Palácio São Joaquim, Dom Eugênio vai emitir uma nota oficial sobre o assunto, provavelmente no seu programa A Voz do Pastor desta sexta-feira.



EM ESTUDOS



Brasília (Sucursal) - O Governo federal está estudando que medidas tomará, nos próximos dias, para eliminar, de vez, a mediocridade de uma série de programas de televisão, considerados como "bastante ofensivos à cultura brasileira."



- São programas chinfrins - disse textualmente uma autoridade, comentando em seguida que os shows transmitidos ao vivo para vários Estados brasileiros atingiram, no domingo passado, os "limites intoleráveis de mediocridade."



Os video-tapes desses programas estão sendo examinados em Brasília por uma comissão de censores e autoridades. Uma delas é o próprio diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General Nilo Canepa, a quem deverá caber a iniciativa dos atos punitivos.







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